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12 setembro 2021

Acessibilidade e representatividade no brincar da pessoa com deficiência

✎ Por Mayara Gonçalves

Quando pensamos na infância, entendemos que essa é uma fase importantíssima para a construção da autoestima, do caráter e do saber de um indivíduo. Assim, é comum que educadoras, educadores e familiares ensinem novos conceitos através das brincadeiras. Afinal, é através das brincadeiras e das interações que as crianças desenvolvem-se integralmente, constroem seus conhecimentos e estabelecem as próprias associações.

Bonecas e bonecos do projeto Amigos da Inclusão, por Cristiane Mendonça. Fonte: Rio de Boas Notícias.

Com base nisso, hoje podemos perceber a forte tendência da gamificação do ensino, que propõe trazer metodologias lúdicas, inclusive para alunos com mais idade. Porém, pouco se fala sobre a importância da acessibilidade e da representatividade no “aprender brincando”, quando aplicado às pessoas com deficiências: e é sobre isso que vamos refletir hoje no Fala, Prô!

Representatividade importa!

Quem acompanha o Fala, Prô! sabe que já conversamos sobre a importância da curiosidade e da educadora ativa na vida da pessoa com deficiência, mas para que a criança se mantenha curiosa e atenta aos estímulos vindos das brincadeiras, é preciso encontrar representatividade e acessibilidade durante o processo.

Bonecas e bonecos do projeto Amigos da Inclusão, por Cristiane Mendonça. Fonte: Carta Campinas.


Para exemplificar melhor a relevância do pilar da representatividade, trago uma pergunta: Com quantas bonecas ou bonecos você se identificou durante a infância por terem semelhanças físicas? No meu caso a resposta é nenhuma, porque há 20 anos ainda não se pensava sobre quão relevante era criar brinquedos que refletem a pluralidade de corpos, etnias, etc. Assim, para me sentir mais próxima das minhas bonecas, colocava elas em situações que se assemelhavam ao que eu vivia (muitas idas ao médico e à fisioterapia). Mas você deve estar se perguntando “naquela época não havia nenhum boneco ou boneca que aparentava ter uma deficiência física?” e sim, havia um boneco (imagem à direita). Sim, essa é a versão clássica do Tonzinho, primeiro mascote do Teleton, que é transmitido até hoje pelo SBT! E, apesar de eu ter ganho o boneco porque estudava na AACD e também por ter participado das primeiras edições do evento, o fato é que para mim ele nunca foi tão representativo.

Com o tempo (e também com muita insistência do consumidor), o mercado de brinquedos foi se abrindo bastante, de modo que hoje vemos marcas como Lego, HotWeels e Barbie investindo em linhas específicas que põe a diversidade de corpos, etnias e condições físicas em pauta. Além disso, é preciso destacar o trabalho repleto de resistência de artistas como a Cristiane Mendonça, que criou o projeto Amigos da Inclusão. Através dele, Cristiane traz bonecos feitos à mão que retratam pessoas com deficiência.

Vídeo sobre a a história das bonecas Barbie, a inclusão, inclusão e diversidade, por Fernanda Fusco

É claro que este novo cenário no mercado de brinquedos traz mais ensinamentos sobre diversidade, inclusão e respeito. Aliás, quando vejo esses avanços, sempre penso em como eles teriam impactado na formação da minha autoestima se tivessem acontecido anos atrás. Assim, há um tempo comecei a pesquisar os valores da Barbie cadeirante com a intenção de comprá-la - mas foi aí que surgiu um detalhe que gera reflexão: as Barbies cadeirantes não são tão acessíveis assim. O fato é que na época da minha pesquisa uma Barbie cadeirante custava em torno de 400 reais, e o mesmo acontecia com a versão do Ken cadeirante. Atualmente foram lançadas 2 versões com estilo verão dessas Barbies que custam em torno de 180 reais e o preço do Ken cadeirante está em torno de 300 reais.

Neste ponto, você pode até afirmar que o valor atual é aceitável para o bolso. Mas, entendendo esse brinquedo como um porta-voz da inclusão, representatividade e acessibilidade, deveria custar menos para chegar a mais gente, né? Afinal, certamente a criança cadeirante da periferia merece ter um brinquedo representativo tanto quanto a criança cadeirante de classes mais altas. Não que a desigualdade já não esteja evidente em muitos outros âmbitos sociais, mas entendo que é preciso ter muito cuidado ao idealizar, precificar e lançar produtos como esses, levando sempre em consideração o seu verdadeiro intuito.

Acessibilizando brincadeiras 

Além dos bonecos e bonecas que representam PCDs, hoje encontramos também alguns brinquedos adaptados (em parquinhos como o de Mairinque, em São Paulo), que fazem muita diferença no divertimento das crianças.   

Parque localizado no município de Mairinque. Fonte: Alesp.

E para aprofundar ainda mais os jeitos de brincar que incluem as pessoas com deficiência, hoje temos o privilégio de encontrar na internet vários materiais específicos que detalham brincadeiras adaptadas. Por isso, para fechar nosso texto de hoje, quero indicar alguns deles:

Aposto que com esses materiais você terá várias ideias de como aplicar as brincadeiras acessíveis na sala de referência, podendo enriquecer ainda mais a formação das crianças. Vale a pena também compartilhar esse material com colegas, famílias e trio gestor, para que o brincar acessível fique cada vez mais difundido! Afinal, todas as crianças (não só as que têm uma deficiência) merecem ser inseridas nesse mundo lúdico, sempre com muito carinho, dedicação e entrega da comunidade ao redor! 

Gostou do texto? Deixe seu comentário abaixo e conte mais sobre as suas vivências enquanto educador e educadora! Até a próxima!



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