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03 março 2023

Incluir X Acolher: O que a sociedade tem a ver com isso?

✎ Por Mayara Gonçalves
Imagem meramente ilustrativa gerada pela inteligência artificial MidJourney para o Fala, Prô!


Segundo o Ministério da Saúde, “acolhimento” significa:

Uma ação de aproximação, um “estar com” e um “estar perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão. Essa atitude implica, por sua vez, estar em relação com algo ou alguém. (Acolhimento nas práticas de produção de saúde, 2010)

Na prática, acolher alguém em determinado grupo social sempre foi um ato de identificação física e psicológica. Um movimento de impacto visual e mental para entender que aquele ser ao lado faz parte do grupo: quem acolhe sempre busca por semelhanças com a pessoa acolhida, usando-as como base para aprofundar a conexão e, a partir daí, identificar as diferenças, respeitá-las e fazer o manejo da relação.

Em todos os âmbitos sociais o acolhimento faz a diferença pois o/a indivíduo/a precisa do convívio com demais pessoas para ter o seu desenvolvimento social, psíquico e motor assegurado. Assim, quando olhamos mais de perto para o recorte do acolhimento da pessoa com deficiência no âmbito escolar, temos um convite aberto para ampliar a visão e perceber quais são os principais desafios relacionados a este assunto. 

Vídeo do educador Geraldo Peçanha de Almeida sobre dignidade pedagógica

A partir da forte relação entre acolhimento, identificação e semelhança, surge uma pergunta importante: Como eu, pessoa sem deficiência, farei o acolhimento real de alguém que à primeira vista não possui semelhanças físicas ou psíquicas comigo? E, antes mesmo de atingir a seara educacional, a resposta a essa pergunta perpassa por algum nível de confronto às ideias capacitistas sobre o que é ser uma pessoa com deficiência, apoiado muitas vezes pela curiosidade da aproximação.

Quantas vezes você teve uma primeira impressão de alguém transformada após a aproximação? Uma boa conversa é capaz de quebrar barreiras e abrir caminho para o acolhimento real, que vai além da conhecida inclusão. Digo isso pois na minha concepção há uma diferença gritante entre incluir e acolher, uma vez que incluir é “fazer o básico” e acolher é “trazer para a sua vida”. Atualmente incluir alguém é como uma “obrigação social e política” que dispensa o afeto e abraça a praticidade. Além disso, é uma obrigação ignorada pela maior parte das pessoas, carregando em si uma grande sensação de ônus a quem precisa se movimentar para incluir.

Enquanto isso, trazer para perto é identificar aquelas pessoas com as quais aprendemos a gostar, ouvindo-as como seres que agregam durante manutenção do nosso círculo social. Com isso, o fato emergente é bem diferente do que prega o pensamento capacitista: a pessoa com deficiência no geral tem todas as qualidades e requisitos necessários para ser reconhecida como um indivíduo socialmente relevante, digno de seus direitos básicos, mas também de voz, afeto e acolhimento. 

Acolhimento educacional: a delicadeza do aprender em conjunto


Quando entendemos sobre as diferenças básicas entre inclusão e acolhimento, nos tornamos capazes de identificar como é possível e necessário humanizar a jornada do aprendizado das crianças, adolescentes, jovens e adultos/as com e sem deficiência. Em outras palavras, penso que o acolhimento educacional pode ser realizado de duas maneiras: 
  • No dia a dia da turma, entre educandas/os e educadoras/es: conversando entre si e aprendendo a respeitar as diferenças e acolher a pessoa com deficiência durante o convívio escolar. Incentivando o aprofundamento das relações e a compreensão de que mesmo que pessoas com deficiência façam as coisas à sua maneira, ela também é válida;
  • No contato entre família, equipe docente e discentes: com vivências e dinâmicas que elucidem a importância do respeito às diferenças e da cooperação. Trazemos um jogo como proposta para uma reunião com as famílias: 
Imagine um cenário onde participantes (famílias e crianças) se dividem em duplas. Um/a integrante da dupla está posicionado em uma ponta da sala referência. Na outra ponta encontramos outra/o integrante, ao lado de um recipiente para depositar água. Um/a das integrantes da dupla deve estar sentada/o em uma cadeira de escritório com rodinhas e os olhos vendados. Outro/a deve permanecer na outra extremidade da sala, junto ao recipiente de água durante o jogo todo. O desafio do jogo é fazer com que quem está sentado e vendado chegue até a outra extremidade da sala e encha o recipiente de água em menos tempo, seguindo somente as coordenadas fornecidas pelo seu parceiro de jogo. As posições devem ser invertidas entre famílias e crianças na segunda rodada e o tempo a ser considerado como final é a soma das duas performances. A dupla que encher o recipiente de água mais rapidamente é a vencedora.

Por fim, durante o jogo, as pessoas envolvidas perceberão o quanto o diálogo, a cooperação e o respeito à complexidade das limitações é importante para que o resultado final seja alcançado, exercitando o acolhimento que deve ser praticado no dia a dia, quando estiverem em contato com uma pessoa com deficiência. Em outras palavras: não há nada que um pouco de competitividade (nata do ser humano) e diversão não resolva na hora de explicar e refletir acerca de conceitos importantes para a nossa evolução e (des)construção, né?

Comentem aí embaixo quais foram os seus maiores aprendizados enquanto educador/a depois de aplicar essa dinâmica e quais foram as devolutivas dadas pelas/os participantes! Não se esqueça também de nos seguir lá no Instagram e Facebook para acompanhar as novidades!

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