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27 abril 2024

Relato de prática: Dei a primeira aula da minha vida!

✎ Por Mayara Gonçalves
Depois de tanto tempo amando o universo da pedagogia e absorvendo tanto aprendizado através da convivência com muitos profissionais formados na área - a ponto de até ganhar o privilégio de poder escrever no Fala, Prô! sobre minhas vivências enquanto pessoa com deficiência -, eu dei minha primeira aula. Não do jeito tradicional, mas a partir dos meus aprendizados em um curso superior direcionado e depois de várias experiências em estágios. De um jeito diferente, como tudo que rola na minha vida.


Dois mil e vinte e três foi um ano super movimentado fisicamente (aaah, minhas viagens…) e psicologicamente (só a terapeuta sabe como tá a mente da palhaça 🤡). Seus meses finais fizeram questão de me reservar uma grata surpresa que vou compartilhar com você hoje!

Em meados de novembro, eis que uma amiga que só me segue na internet enviou, do nada, um convite para que eu fosse até a Universidade Cruzeiro do Sul - Campus Paulista, bater um papo com o pessoal da turma dela, que está se formando em fisioterapia. Segundo ela, o que motivava o convite era o simples fato de me acompanhar nas redes e perceber o quanto, apesar das minhas questões, eu desfrutava da vida e era uma pessoa ativa. 

Como sempre tive amigos virtuais e uma cara de pau enorme, obviamente aceitei de primeira. Afinal, trocar ideia é uma das ferramentas mais poderosas para gerar conexões e conhecer pessoas! E nem estava pensando nisso, em primeiro momento, como uma aula. Sempre fui mais do tipo de pessoa que gosta de ser verdadeira, chegar nos lugares e ver o que acontece quando me disponho a conversar e compartilhar ideias. Sem muita preparação, só sendo eu mesma. 

É claro que em outros contextos, relacionados principalmente à minha vida corporativa, esse jeito “vai lá e faz” já me colocou em muitos perrengues - gente, como eu posso ser aquela  pessoa que adora ser entrevistada, mas ao mesmo tempo também sou aquela que NUNCA sentiu que foi bem em uma entrevista de emprego? Ainda bem que sempre existiram as indicações e meus amigos maravilhosos que me deram oportunidades. Se não eu tava frita!

Mas, no contexto desse convite, eu tinha algo muito poderoso ao meu favor: a minha própria história e a vontade de contá-la. Então, logo que aceitei o compromisso, já disse que me sentiria mais confortável se fizéssemos o encontro em uma roda de conversa, onde eu responderia as perguntas dos alunos e o aprendizado mútuo surgiria a partir disso. Eu sei que as pessoas têm dúvidas quando conhecem uma PCD e, várias vezes, têm muito medo de perguntar as coisas. Então, resolvi que esse era o melhor jeito de conduzir a nossa conversa!




No dia marcado, lá estava eu pronta para começar. Aquela mesma menina que já travou durante uma apresentação de trabalho no curso técnico, só porque teve que pegar no microfone em cima de um palco e falar para várias pessoas - tenho vergonha desse dia até hoje, socorro! Talvez se ele não tivesse acontecido, eu não teria passado por um monte de coisas ruins emocionalemte durante o fim minha adolescência e início da vida adulta. O encontro fluiu super bem, a galera foi super receptiva e passamos horas conversando sobre diversos aspectos da minha vida, trocando experiências e aprendendo juntos… Ganhei até presente! Se eu pudesse resumir o que tentei passar para essas pessoas que pretendem se tornar fisioterapeutas, diria que convidei cada uma delas a ter um olhar mais humano para as pessoas que adentrarem seus consultórios no futuro.

Afinal, passei por muitos profissionais da área que, por trabalharem para determinadas instituições e precisarem bater metas, atingir objetivos em um curto período de tempo e focar na reabilitação pós-cirúrgica, não na manutenção de qualidade de vida do paciente, nunca puderam me atender olhando para as particularidades. A vida dentro do sistema no qual estamos inseridos é assim: tentei me enquadrar em metas, objetivos pontuais estabelecidos por outras pessoas para a minha saúde física, vi alguns profissionais despreparados fugindo de mim toda vez que me propunha a fazer um exercício diferente dos alongamentos fisioterápicos básicos e, por muito tempo, fui uma pessoa sedentária. Hoje me sinto feliz por este cenário não ser mais realidade  - academia está quase aí, voltando com tudo no fim de janeiro, com a minha personal e amiga incrível! - e por ter atingido os meus preciosos 10 minutos de esteira, que antes disseram que eu não ia fazer.
 
Nesse dia eu ganhei amigos e um novo aprendizado, que só intensificou algo em que eu já acreditava: não somos robôs que atingem metas e performam incrívelmente bem durante toda a vida. Somos pessoas… com sonhos, verdades, inseguranças, medos e uma história tão particular que, quando compartilhada com o outro, pode ganhar sim o status de aula… mesmo não seguindo seus padrões.

Já pensou em me chamar para bater um papo com os alunos e professores da sua escola ou faculdade? Eu estou só esperando o convite e o seu comentário sobre o que achou do texto. 💗 Até a próxima! 

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