✎ Por Ekatherina Ugnivenko
Após aproximadamente oito meses de pandemia no Brasil, o fim do ano se aproxima, assim como o encerramento de um ano letivo desafiador para alunos, famílias e professores. A pandemia ao redor do mundo já matou mais 1,5 milhão de pessoas, fazendo mais de 170 mil vítimas no Brasil. A educação, que é campo de luta e disputa, tornou-se terreno fértil para especulações sobre formatos e medidas necessárias para um retorno seguro às escolas. Contudo, as áreas que realmente deveriam dar suporte para a educação durante os tempos de pandemia estão há muito enfraquecidas, tomadas por discursos pouco propositivos, ou que sugerem soluções rudimentares ou reducionistas.
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Crianças em sala de aula - imagem de FreePik |
Enquanto exemplos de relativo sucesso para a manutenção do ano letivo de 2020 em outros países poderiam auxiliar a elaboração de modelos adequados para a pluralidade da educação brasileira em 2021, o último mês do ano se iniciou sem que qualquer plano tenha sido divulgado para o ano seguinte. Dentro deste cenário, a disputa se acirra, e um jogo de interesses incita a desunião entre as pessoas envolvidas no processo educativo, afastando a responsabilidade dos órgãos que obrigatoriamente deveriam orquestrar um retorno seguro, e que se eximem de sua obrigação primordial – colocar a educação como prioridade para o ano de 2021 em escala nacional. No caminho oposto, o Ministério da Educação anunciou um corte bilionário para orçamento de 2021.
O assunto é urgente e precisa mobilizar a sociedade como um todo, principalmente os profissionais da educação. Para a elaboração de planos de retorno, além de investimentos massivos na educação pública, é necessário que haja discussão extensiva e contínua sobre o tema, antes que um retorno obrigatório surpreenda professores e alunos. Até o momento, o Ministério da Educação está resistindo em homologar a permissão das aulas remotas em 2021, o que evidencia intenções pouco democráticas acerca de flexibilizações do modelo escolar para que sejam condizentes à evolução da pandemia nas diferentes regiões.
Destacamos que o Fala, Prô! é contra a volta às aulas enquanto o Brasil for o epicentro da atual pandemia de COVID-19 e não houver um plano bem elaborado para o retorno seguro. Nossas publicações têm como propósito trazer reflexões e sugestões de vivências que contribuam para a realidade de professoras, professores e demais atores do contexto escolar.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS DA ÁREA DA SAÚDE?
É necessária muita cautela ao analisar e
utilizar dados sobre a transmissão de Covid-19 em crianças. Na semana passada,
um grupo de pediatras brasileiros sugeriu por meio de uma mobilização digital que a atenção pública se voltasse para a reabertura das escolas. A
campanha aponta que as crianças se contaminam menos, transmitem menos e manifestam
a doença de maneira menos grave. Contudo, é preciso muito cuidado ao concordar com estas afirmações. Os estudos neste sentido ainda são especulativos, pois a
experiência em relação ao retorno às aulas ainda está sendo vivida e analisada ao
redor do mundo. Além disso, há diferenças socioeconômicas e culturais que impactam na forma como as crianças se relacionam dentro e fora dos muros da escola. Sabemos que quanto menores as crianças, mais próximas são as trocas
sociais e menor é o autocontrole sobre suas ações e sobre sua higiene.