✎ Por Mayara Gonçalves
Você, que é educador ou educadora, já se sentiu realmente representado por uma série de TV? Pois a minha indicação no texto de hoje certamente tocará a sua trajetória pedagógica e pessoal de maneira especial. Ao assisti-la certamente você se lembrará de alguns desafios que enfrentou durante a sua jornada de trabalho ou até mesmo reviverá sentimentos de quando era estudante. Então prepare-se!
Imagem de divulgação com elenco da série Segunda Chamada |
Escrevo este texto exatamente 2 semanas após ter terminado de maratonar as duas temporadas da série Segunda Chamada, disponível no GloboPlay. E, mesmo depois deste tempo, ainda estou refletindo sobre o impacto da produção na minha vida.
Protagonizada por Debora Bloch, a série tem um elenco robusto e conta mais sobre a rotina de uma escola pública fictícia chamada (sugestivamente) de Carolina Maria de Jesus, dando ênfase à história da turma de ensino noturno na modalidade EJA. E a beleza da produção começa por este pilar: feito a trajetória da escritora que nomeia a escola, Segunda Chamada traz em sua essência a segunda chance que a vida deu à jovens adultos através da educação. Além disso, nos convida a ter uma nova perspectiva sobre os dramas vividos pelo corpo docente em um contexto precarizado de ensino.
Com uma trama intrincada, essa é daquelas produções que prendem a sua atenção a cada minuto, mostrando que a vida de quem trabalha ensinando é repleta de nuances e desdobramentos que contribuem para a transformação constante. Para ser mais objetiva, a série me mostrou como é complexa a tarefa de separar a vida pessoal da profissional sendo professor/a. Essa linha tênue é mostrada várias vezes à medida que conhecemos os conflitos emocionais de cada um/a dos/das educadores/as retratados/as.
Por vezes quem não é educador/a até pensará: "Como é possível que essas pessoas se envolvam tanto com as histórias de alunas/os, ainda mais em uma escola que mesmo caindo aos pedaços, luta para sobreviver diariamente?" E a única resposta plausível que eu encontrei para essa pergunta foi: ensinar e guiar pessoas através do desconhecido é uma condição de alma, muitas vezes maior do que nós mesmas/os.
Além disso, a sensação se repete quando olhamos para os conflitos de alunas/os, que evidentemente encontram no letramento a oportunidade de criar para si uma nova realidade, bem diversa da qual estão inseridas/os fora do âmbito escolar. Segunda Chamada é lugar de fala para as mazelas da vida humana que tentam se ressignificar a cada etapa. É lugar de questionamento, resistência, crítica social e política.
Espaço artístico e televisivo que aborda (e transborda) temas complexos e presentes na sociedade brasileira como: desigualdade social, evasão escolar, inclusão, fé, xenofobia, preconceito racial, saúde mental, direitos da população LGBTQIAPN+, violência doméstica, índice populacional em situação de rua. Segunda Chamada é, em suma, uma história ficcional e real ao mesmo tempo, pois naquela representação nossa luta encontra acolhimento, identificação, emoção, representatividade e forças para continuar. Afinal, como diria a protagonista Lúcia: "Educar não é sobre vencer. É sobre resistir."
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