✎ Por Fernanda Fusco
O Carnaval chegou e, se faz sentido para a comunidade onde a escola está inserida e é do interesse das nossas crianças, pode ser sim festejado desde que contextualizado de forma significativa, valorizando as mais variadas histórias e culturas de nosso país - afinal, diferente de outras datas comemorativas, as manifestações carnavalescas brasileiras são reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO. Para refletir um pouco mais a respeito, acesse essa publicação da professora Maíra Braga!
Imagem gerada pela inteligência artificial MidJourney para o Fala, Prô! |
No post de hoje, deixaremos dicas de 5 livros ilustrados para lermos com as crianças (tanto neste mês como ao longo de nosso ano letivo) e algumas possibilidades. A partir das obras que selecionamos, além de contextualizarmos esse e outros temas e contribuirmos para aumentar o repertório cultural da molecada, também podemos realizar propostas para desenvolver outras habilidades e competências. Mas é sempre importante lembrar que nem todos os momentos de leitura devem ser acompanhados por alguma vivência, especialmente se queremos desenvolver a estratégia de leitura deleite (ou leitura por prazer)!
Fevereiro (Carol Fernandes)
Em Fevereiro, da autora e ilustradora Carol Fernandes, acompanhamos os preparativos para o Carnaval de Salvador pelo olhar de um garotinho que observa tudo o que está acontecendo em sua casa: para ele esse mês é marcado pelo desfile dos Filhos de Ghandy, o maior grupo de afoxé da Bahia. As ilustrações transmitem uma sensação de movimento e fluidez, e são belamente coloridas em tinta guache com destaque para o branco e o azul de Iemanjá, que também são as cores do bloco. O livro foi dedicado à Gilberto Gil, compositor da canção Filhos de Ghandi, e trata também a respeito da descoberta, da tradição e da ancestralidade. Clique aqui ou na imagem ao lado caso tenha interesse em comprar!
Desfile do grupo de afoxé Filhos de Ghandy no canal TVE Bahia
📖 Algumas possibilidades: Iniciar o trabalho com o calendário. Pesquisar a respeito do artista Gilberto Gil e apreciar a música Filhos de Ghandi. Apreciar imagens e vídeos do grupo de afoxé Filhos de Ghandy. Apresentar histórias sobre os orixás para as crianças. Propor um contexto com pintura em tinta guache utilizando diferentes tons de azul (que podem ser misturados coletivamente) e disponibilizar tablets (ou imagens impressas) do Instagram de Carol Fernandes para identificarem algumas técnicas.
A escola do cachorro Sambista (Ferreira & Massarani)
A história, narrada em primeira pessoa, tem como protagonista um cachorrinho chamado Sambista que nos apresenta o dia a dia da escola de samba Unidos do Batuque. Acompanhamos desde os preparativos para o Carnaval até seu desfile, e página por página conhecemos as pessoas envolvidas (compositor, mestre de bateria, as baianas, etc.), seus papéis e contribuições, as reuniões, os instrumentos e até os espaços que ocupam. O livro também é cheio de fotos e curiosidades, que explicam determinadas terminologias, apresentam personalidades carnavalescas e contextualizam a festa. As ilustrações são repletas de detalhes que complementam o texto: gostei muito da do final do livro, em contracapa dobrável, que contém legendas para identificar cada ala. Clique aqui ou na imagem acima caso tenha interesse em comprar!
Ilustração de Mariana Massarani para A escola do cachorro Sambista. Foto por Fernanda Fusco. |
📖 Algumas possibilidades: Entrevistar as/os profissionais da unidade e descobrir quais são os seus papéis e contribuições para a escola. Propor uma produção textual (professora ou criança enquanto escriba) para compor um samba-enredo a partir de uma temática escolhida pela turma. Observar cada detalhe das ilustrações (inclusive da capa) e contar outras histórias. Desenhar croquis de peças para um possível desfile. Realizar uma pesquisa para descobrir o porquê de os animais serem proibidos nos desfiles e conversar sobre os seus direitos.
O caraminguá (Bia Bedran)
Jorginho é um menino que sempre esteve envolto pela música, tendo nascido inclusive em uma roda de samba, e que adora ouvir o pai e seus amigos tocarem em um bar. Certa vez, em uma dessas rodas, Jorginho ouve que para conseguirem gravar um samba e tocar no rádio, as pessoas adultas precisariam de um tal de "caraminguá". Mas o que seria isso, afinal? O menino resolve então realizar uma pesquisa para descobrir, faz algumas inferências e, ao final da história, presenteia o pai, que fica bastante emocionado. A obra, ilustrada em guache com tons mais terrosos e azul, revela muita sensibilidade ao tratar da curiosidade das crianças e do vínculo familiar. Clique aqui ou na imagem ao lado caso tenha interesse em comprar!
Pois bem, Jorginho foi crescendo e ouvindo essas belas canções. Quando chegava o fim da semana, o pai sempre ia tocar. Mesmo que a mãe não fosse, Jorginho ia e ficava por ali, ouvindo, brincando e conversando com as pessoas que também gostavam da música e do encontro.Um dia, Jorginho ouviu seu padrinho Paulão, que era o percussionista do conjunto, dizer:- Como está difícil ganhar um caraminguá!A palavra "caraminguá" entrou na cabeça de Jorginho e não saiu mais de lá. Caraminguá. (p. 11-12)
📖Algumas possibilidades: Convidar as crianças a realizarem inferências sobre o que seria "caraminguá" e outras palavras curiosas. Introduzir a utilização do dicionário e propor para que consultem palavras desconhecidas. Pesquisar sobre os instrumentos musicais das rodas de samba e confeccionar alguns deles (ou até tocar um samba com caixinhas de fósforo). Apresentar a biografia de alguns sambistas (como Cartola, Adoniran Barbosa, etc.) e apreciação de suas músicas.
Os ibejis e o Carnaval (Helena Theodoro)
Ibejis, no panteão nagô, são divindades gêmeas que no livro da autora, doutora em Filosofia e estudiosa da cultura afro-brasileira Helena Theodoro, são representados pelo irmão Neinho e a irmã Lalá. A história se passa no Rio de Janeiro, localidade onde os gêmeos (que foram muito esperados pela família!) nasceram: esse nascimento foi até comemorado com muita batucada e samba! Sentados aos pés de sua avó, Neinho e Lalá (que possuem características bastante distintas) traçam uma conversa com muitas descobertas sobre o Carnaval e algumas personalidades como o mestre-sala Ronaldinho da Salgueiro, a porta-bandeira Selminha Sorriso da Beija-flor e o Mestre Manoel Dionísio. As ilustrações de Luciana Justinianni são ricas em cores e texturas que remetem aos tecidos iorubás e às cores dos orixás. É também uma história sobre ancestralidade e sabedoria das pessoas mais velhas. Clique aqui ou na imagem ao lado caso tenha interesse em comprar!
Animação da contação da obra
📖 Algumas possibilidades: Valorizar a oralidade ao propor que as crianças conversem com as pessoas mais velhas da família sobre suas histórias e compartilhem em uma roda da conversa. Descobrir quais são as diferentes fases da lua e apresentar contos e lendas de povos indígenas sobre esse satélite. Pesquisar a respeito das diferentes personalidades que são destacadas no livro. Compor os espaços com tecidos alaari, aso oki e índigos, propor amarrações (como turbantes), fazer tingimentos, etc.
O rapto do galo (Fabiana Karla)
O animal símbolo do bloco Galo da Madrugada some antes do Carnaval de Pernambuco e todas as pessoas envolvidas saem à sua procura: descobrem que quem o raptou foi o Papa-Figo que, tristonho, resolveu amarrá-lo pois nunca podia frequentar a festa. Ao longo da obra conhecemos algumas personagens lendárias do folclore brasileiro, como o próprio Papa-Figo e o Zé Pereira, o Papangu dos festejos, assim como as manifestações carnavalescas da região. É evidente a inspiração da atriz, apresentadora, humorista e autora Fabiana Karla na literatura de cordel pela métrica e rimas presentes no texto. A obra contém ilustrações da pernambucana Rosinha, que lembram as xilogravuras, com os contornos bem marcados em preto, bastante coloridas (como o próprio festejo) e com texturas em chita. Clique aqui ou na imagem ao lado caso tenha interesse em comprar!
Oficina de xilogravuras realizado em 2017 com as crianças da educação infantil. Acesse a publicação aqui em nosso blog para saber mais! |
📖 Algumas possibilidades: Pesquisar a respeito das diversas manifestações do Carnaval em Pernambuco, como frevo e o maracatu. Contribuir para o protagonismo das crianças ao formar um Conselho Mirim e/ou realizar assembleias na unidade. Organizar oficinas ou montar contextos de xilogravuras. Identificar as rimas durante uma segunda leitura da obra e criar suas próprias. Realizar a leitura de outras obras de literatura de cordel e propor a escrita pela criança. Apresentar outras obras com lendas do folclore nordestino.
Já conheciam essas obras? Qual outro livro ilustrado você indicaria e quais as suas possibilidades de trabalho na educação infantil e ensino fundamental? Já vem deixar o seu comentário e visite também o Instagram da doutora em letras e pesquisadora de literatura infantil Juliana Pádua para mais dicas! E não se esqueça de nos seguir no Facebook e Instagram!
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