✎ Por Fernanda Fusco
O leite humano é o melhor alimento que bebês podem receber, já que fornece todos os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável, além de anticorpos e água. No entanto, embora devesse ser naturalizado e apoiado pela nossa sociedade (especialmente por ser uma questão de saúde pública), o aleitamento muitas vezes se transforma em um desafio para quem amamenta. As dores, a falta de informação, o retorno ao trabalho e a ausência de acolhimento são alguns dos obstáculos que lactantes precisam enfrentar, o que resulta muitas vezes no desmame precoce de bebês e/ou na introdução de fórmulas infantis ou compostos lácteos (que são alimentos ultra processados) sem que haja uma necessidade real para isso.
Imagem meramente ilustrativa gerada pela inteligência artificial MidJourney para o Fala, Prô!
O Agosto Dourado desempenha um papel crucial na promoção e apoio ao aleitamento humano, incentivando a conscientização sobre seus benefícios, o diálogo e dando visibilidade aos desafios enfrentados pelas pessoas que amamentam. O mês serve também como um lembrete da importância de promover espaços acolhedores e com boas informações (baseadas em evidências científicas) para que a amamentação possa ser uma experiência bem-sucedida.
Por isso, no podcast de hoje vamos mergulhar no universo do aleitamento humano, explorando os obstáculos enfrentados pelas pessoas lactantes; a importância da disseminação de informações, apoio e acolhimento; o papel das escolas na promoção e proteção desse ato tão essencial; e os avanços conquistados com a CEI Amigo do Peito, campanha educativa desenvolvida pela CODAE da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Confira nosso novo episódio clicando no play logo abaixo e, para mais informações, continue lendo esta publicação e acessando os links sugeridos!
Episódio desenvolvido como trabalho final para a disciplina de ATPA III ministrada por Thaís Brianezi do curso de Educomunicação (USP)
O desmame precoce e desafios enfrentados por lactantes
Estudos da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostram que o aleitamento humano exclusivo até os seis meses de idade é fundamental para a saúde de bebês, reduzindo o risco de infecções, alergias, doenças crônicas, obesidade e diabetes. Para a pessoa lactante, a amamentação reduz o risco de câncer de mama e ovário, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. No entanto, apenas 45% das crianças brasileiras menores de 6 meses eram amamentadas exclusivamente com leite humano no ano de 2019. Após esse período, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento seja mantido até pelo menos os dois anos de idade junto com a introdução de alimentos sólidos – mas o índice também é baixo.
Isso se deve, muitas vezes, às dificuldades enfrentadas por parte das pessoas lactantes em relação à falta de informação, apoio ou acompanhamento adequado, que acabam desistindo e desmamando seus bebês precocemente. A fonoaudióloga e consultora em amamentação Mel Campos alerta que "a principal causa do desmame precoce tem a ver com dor mamilar, porque tem a ver com os primeiros dias da história de amamentação". A introdução de bicos artificiais, como chupetas e mamadeiras, também pode prejudicar o aleitamento.
Você conhece o Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos (Ministério da Saúde, 2019)? É uma publicação que fornece recomendações essenciais para promover a saúde e o desenvolvimento infantil através da alimentação, além de destacar a importância da amamentação e como oferecer o leite humano ordenhado sem recorrer aos bicos artificiais. O guia também orienta acerca da oferta de alimentos in natura ou minimamente processados, oferecendo dicas práticas sobre introdução alimentar, além de abordar desafios como a influência da publicidade. Para saber mais, clique aqui!
A experiência de Vanessa Sales, mãe de Débora, ilustra as dificuldades enfrentadas por muitas pessoas lactantes. Vanessa relata que, apesar de ter amamentado sua filha desde o nascimento, enfrentou desafios como a dor nos primeiros dias e a falta de apoio no Centro de Educação Infantil (CEI) onde Débora foi matriculada. A instituição não estava preparada para receber o leite e não respeitou a decisão de Vanessa em não oferecer chupeta.
Laís Cristine, mãe de Thales, teve uma experiência diferente. O CEI onde seu filho foi matriculado ofereceu o apoio necessário para que ela continuasse amamentando. No entanto, Laís observa que a amamentação ainda é pouco comum na instituição e que muitas pessoas profissionais de educação infantil não têm informações e formações suficientes sobre o tema.
Como a escola pode apoiar a amamentação?
A escola pode desempenhar um papel fundamental no apoio à amamentação, oferecendo informações e acolhimento às pessoas que amamentam. A organização LeMe na Escola atua para transformar as unidades em ambientes acolhedores, realizando sensibilizações e rodas de conversa com profissionais e famílias. Chica San Martin, diretora presidente da organização, afirma: "a escola é um espaço super importante, porque ela é a primeira instituição que vai compartilhar do trabalho do cuidado com essa família".
Audiência pública sobre políticas públicas de incentivo à amamentação no ambiente escolar com a participação de Chica San Martin e Kátia Iared
Kátia Iared, nutricionista supervisora e integrante do Grupo de Trabalho em Aleitamento Materno da Coordenadoria de Alimentação Escolar (CODAE) do município de São Paulo, destaca os avanços na promoção do aleitamento humano desde 2016, com a implementação de ações estruturadas. A CODAE oferece formação às/aos profissionais, materiais informativos para as famílias e a campanha CEI Amigo do Peito, que reconhece as instituições que apoiam a amamentação.
O aleitamento humano, para além de todos os benefícios mencionados neste episódio, é um ato que envolve afeto, já que é mais uma forma de promover o vínculo entre cuidadoras/es e bebês, mas também tem sido um ato de resistência diante de todos os obstáculos enfrentados por quem deseja seguir amamentando. Devemos lembrar que é um direito da pessoa lactante e de bebês que precisa ser protegido por toda a sociedade – incluindo as escolas, que podem ser verdadeiras aliadas das famílias, apoiando, acolhendo e informando para que seja uma experiência um pouco mais tranquila e bem-sucedida.
Não esqueça de compartilhar com a gente as suas experiências e impressões nos comentários: há ações de apoio ao aleitamento humano na escola onde você trabalha? Você é lactante (ou já foi)? Quais desafios que costuma(va) enfrentar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário